A Grande Viagem do Mestre Conselheiro

Por Fernanda Cougo Mendonça[1]

Hoje completa um mês; um mês de saudade…. Em homenagem, saio do silêncio profundo no qual imergi e compartilho esse texto que escrevi.

Que tarefa essa de trazer para as palavras, para a linguagem escrita, uma experiência tão sublime… tão viva… porque vivida, experimentada, sentida; eu diria até… sofrida, por cada um de nós que ali presenciou, de forma coletiva e ao mesmo tempo singular, a grande viagem do Mestre Conselheiro Luiz Mendes do Nascimento, o Orador do Mestre Raimundo Irineu Serra. Tarefa tão nobre quanto desafiadora. No entanto, justamente pela nobreza do ancião que fez sua viagem, me sinto motivada. E me coloco na obrigação de registrar, pelo menos em parcelas (“parcelas divinas de rosas… parcelas de amor…” como diz a senhora Ana de Souza), um pouquinho da grandiosidade, da profundidade, da beleza (mesmo em que se pese a grande dor…), da travessia vivida na comunidade Fortaleza (Capixaba – Acre) entre os dias 22 de junho e 07 de julho do ano de 2019.

Cabe considerar que, inevitavelmente, trata-se do meu ângulo de observação; observação intimamente participante. E por isso me refiro às parcelas…  O que tenho condições e me esforço para fazer soar aqui são algumas notas que pude apreender da belíssima sinfonia orquestrada em homenagem a esse grande homem. Seguindo ao lado de sua esposa e de sua grande família uma longa trajetória de vida dedicada ao Daime, Luiz Mendes constituiu um acervo vivo da doutrina do Mestre Irineu (com o qual conviveu de 1952 a 1971): Orador, xamã, poeta da diversidade, narrador, professor, artista do verbo, contador de histórias, homem-memória, arauto do rei Juramidam, jogral de Deus, centurião, conselheiro, festeiro, o padrinho Luiz; passarinho artista, rouxinol, na diversidade e arte de seu contar e cantar.

Antes, porém, de adentrar à travessia, gostaria de fazer uma breve contextualização de minha inserção, junto com meu esposo, na grande família do padrinho Luiz e de sua esposa, a madrinha Rizelda; e como se deu nossa participação em tal ocasião; eu considero até, o chamado e a graça de estarmos presentes e apreciarmos de perto essa passagem. [2]

 Obs.:Você pode continuar a ler o texto nos slides ou rolando a tela para baixo.

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 *Ao completar 1 ano de sua travessia, publiquei um artigo no Jornal Notícias do Acre. Um brevíssimo resumo deste texto. Veja aqui: A grande Viagem de Luiz Mendes

AMIZADE E O LIVRO DO ORADOR

Conheci Luiz Mendes, dona Rizelda e família ainda menina nos idos de 1993, nos ecos da Festa do Centenário do Mestre Irineu. Desde então tivemos a oportunidade de vivenciar diversos e lindos encontros e travamos fecunda amizade. A partir do ano de 2009 estreitamos os laços quando, atendendo a um convite meu, o senhor Luiz, acompanhado de seu filho Saturnino, veio ao Matutu, Minas Gerais, para celebrar meu casamento com Carlos Pila. Ao final desse mesmo ano, acometida por um problema de saúde, tive a oportunidade de realizar um tratamento no Acre, na Luz do Santo Daime, no Pronto Socorro de Cura Espiritual do saudoso Wilson Carneiro bem como na comunidade Fortaleza de Luiz Mendes, durante o Encontro para o Novo Horizonte.

Desde então eu e meu esposo sonhávamos com a possibilidade de viver um tempo no Acre aprendendo um pouco mais com os zeladores anciões dessa doutrina do Mestre Juramidam e da Rainha da Floresta. Em 2013 a oportunidade apareceu! Um mestrado na Universidade Federal do Acre, com bolsa de estudos. Fiz as provas, passei, nos mudamos e formamos nas fileiras do Centro Eclético Flor do Lótus Iluminado – CEFLI – fundado e dirigido por Luiz Mendes e sua família.

Durante a pesquisa, orientada pelo estimado professor Gerson Rodrigues de Albuquerque, tive a oportunidade de tecer uma dissertação em contato, em diálogo com esse ancião nascido no seio da Amazônia acreana e conhecido como o orador do Mestre Irineu. Um diálogo com as memórias ancoradas em seu corpo e com a voz poética que desse corpo emana. Uma voz que ressoa no interior e a partir da doutrina do Daime, de êxtases místicos, de contextos amazônicos. Foram dois anos e meio de intensa convivência com o ancião e sua família (2014 -2016). Nesse período participamos de praticamente todos os trabalhos espirituais na sede da Estrela D’Alva e do Luzeiros da Manhã[3]; residimos um ano e meio na comunidade Fortaleza onde fazíamos visitas diárias ao senhor Luiz e dona Rizelda, compartilhando das boas conversas e singelas orações em sua inesquecível varanda… bebendo do néctar de sua boa companhia.

A defesa da dissertação com a presença do orador e de parte de sua família e comunidade foi muito gratificante! A pesquisa – que, destaco, foi lida e corrigida pelo próprio senhor Luiz, especialmente o capítulo das transcrições de seus contos, cantos e preleções – foi aprovada com louvor pela banca de professores doutores. Começamos a sonhar com a publicação no formato de livro. Os recursos financeiros, contudo, ainda eram um impedimento. O programa de Pós-Graduação em Letras: Linguagem e Identidade da UFAC, onde realizei a pesquisa, se dispôs a publicar em e-book. Mas eu almejava mesmo o livro físico; impresso.

De volta ao Matutu, MG, resolvi criar uma apresentação da pesquisa. Eu já havia feito explanações em alguns seminários e também na Conferência Mundial da Ayahuasca, realizada em Rio Branco no ano de 2016. Mas queria algo mais artístico, mais xamânico; que fizesse jus aos saberes e às artes verbais do orador. Em abril de 2018, após sistematizar o meu trabalho de 16 anos nos campos das Artes, Cultura e Educação sob o guarda-chuva da então batizada Companhia Casmerim, criei e apresentei (na companhia musical de Carlos Pila e Ceres Gaia): “Ayahuasca/Daime: diálogo com contos, cantos e encantos do orador do Mestre Irineu”: uma palestra permeada por narração artística de histórias. A apresentação foi muito bem recebida pelo público! Além disso foi filmada e editada por amigos da produtora “Na laje Filmes”. Sonhamos em alçar novos voos e realizar novas apresentações em outras localidades… [4]

Ainda em 2018, com esse material em mãos, certo dia, inseridos em uma boa conversa, o amigo Manno França mencionou a existência do crowdfunding: um mecanismo de financiamento coletivo pela internet; uma ferramenta que estava (está) sendo muito utilizada para viabilizar a concretização de diversos projetos. Me animei. Fiz uma pesquisa e encontrei a plataforma virtual da Benfeitoria. Me encantei. Coração bateu forte. Me debrucei sobre o material fornecido pela plataforma, criei e atualizei os endereços digitais da Companhia Casmerim e enviei o projeto para a Benfeitoria. Aprovado! A partir de então foram meses de dedicação diária no que se refere à preparação e divulgação da campanha para a publicação do livro “ O Orador do Mestre Raimundo Irineu Serra: Diálogos, Memórias e Artes Verbais”, que fiz questão de publicar em coautoria com Luiz Mendes. O projeto incluía também a apresentação da Companhia Casmerim no Acre para o lançamento da obra junto ao ancião. Com muito trabalho, carinho e apoio dos benfeitores a campanha foi um sucesso. Teve início então a produção e entrega das recompensas…  Mais especificamente o trâmite com a editora… inúmeras e detalhadas correções do texto, diagramação, capa… inserção das partituras dos cantos… E, finalmente, no final de janeiro de 2019 o livro ficou pronto! Gostaríamos que estivesse pronto para o aniversário de Luiz Mendes em 04 de janeiro, comemorado durante o Encontro para o Novo Horizonte, quando a comunidade Fortaleza recebe centenas de visitantes de diversas localidades do Brasil e do Mundo para celebrar uma grande festa espiritual com duração de dez dias. Mas o Mestre não quis assim. Ele nos reservava, dentro de seu plano, uma vivência que nem imaginávamos…

Bom, se não foi no Encontro, qual seria o melhor momento para o lançamento do livro no Acre? Poderia ser no Retiro de Carnaval, no São José… quem sabe na Semana Santa… em maio, nosso aniversário de casamento? … Ou nas festas juninas?! Mas estavam tão longe…. E a saudade apertava! Já fazia dois anos e meio que eu não via meu padrinho…. Não por falta de vontade, mas sim pela limitação dos recursos financeiros que não me permitia empreender a viagem de Minas ao Acre, junto ao meu esposo.

Enquanto procurávamos uma data adequada para tal evento, com a presença da família na Fortaleza e passagens a preços acessíveis, resolvemos fazer alguns lançamentos em Minas Gerais incluindo a apresentação da Companhia Casmerim, ainda no mês de fevereiro. Foram três ao todo: o primeiro na comunidade do Matutu; o segundo na Fraternidade Kayman, em Belo Horizonte; e o terceiro na Flor de Jagube, durante a celebração em comemoração aos 25 anos da igreja e aniversário, em memória, de Marcos Moysés e Paulo Sarvel. Seu Luiz acompanhou tudo por fotos e vídeos que enviávamos à sua filha Rosalânge e sua neta Suzirene. Desde a campanha, até a chegada dos livros aqui em casa e as apresentações da Companhia Casmerim nos lançamentos. De acordo com o que elas nos repassaram, ele adorou ver as imagens e contava para as pessoas todo orgulhoso…

Enfim, logo após as apresentações, sentimos forte o chamado para o São João. Decidimos. Iríamos nessa data. E não é que encontramos passagens promocionais?! Tanto para a ida quanto para a volta! Contatamos a família do CEFLI e, estando tudo combinado, compramos os bilhetes. Chegaríamos na Fortaleza dia 22 de junho ficando lá até o dia 07 de julho e participando do São João, do São Pedro (data especial quando se canta o hinário “O Centenário” de Luiz Mendes), do trabalho em homenagem à passagem[5] do Mestre e demais festejos da programação para essa época, incluindo aí a apresentação da Companhia Casmerim para o lançamento oficial do livro junto ao orador e comunidade.

A TRAVESSIA DE LUZ

Pois eis que o destino nos prega uma peça. E como bem disse o amigo Saturnino, presidente do Centro e filho primogênito de Luiz Mendes, embora eu e meu esposo tenhamos chegado à Fortaleza com o intuito de compartilhar a boa nova do livro publicado, nossa missão ali naquela ocasião era, também, outra. E dentro do plano divino vivenciamos – junto com a grande família do CEFLI da qual consideramos, fazemos parte – o ciclo completo dessa travessia de luz; da grande viagem espiritual do nosso amado padrinho.

Saturnino optou por manter toda a programação do festival e os 15 dias de trabalhos daimistas e orações foram um grande alento para todos que nós que acompanhávamos aquela passagem.[6] Não há palavras para descrever, na totalidade, o que ali passamos e presenciamos. Porém, no intuito de registrar, ainda que em gotas, esse momento vivido; essa experiência tão tocante e comovente; tão bela (ainda que triste); tão significativa e singular, me coloco a meditar e me esforço para encontrar as melhores palavras e tecer este depoimento pessoal.

***

Luiz Mendes passou mal na madrugada do dia 22. Nos contaram os familiares que ele acordou e, como não devia estar se sentindo bem, foi ao seu quartinho e tomou um Daime (era o grande amigo a quem sempre ele procurava, em primeiro lugar, em suas aflições). Voltou ao seu leito. Um tempo depois dona Rizelda percebeu que ele não estava bem. Chamou socorro e seu Luiz foi levado imediatamente para o Pronto-Socorro em Rio Branco (inclusive uma ambulância já o aguardava na saída do ramal). Eu e meu esposo chegamos à Fortaleza no mesmo dia, por volta das 14:00 horas, justamente quando o irmão Edson Alexandre trazia para a família a notícia do boletim médico: o ancião havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC), também conhecido como “Derrame Cerebral”; se encontrava em coma e o quadro era grave.

Entre choros e abraços nessa recepção tão dura, inesperada e comovente, as amigas Rosa (aniversariante do dia….) e Suzi nos disseram que nossa chegada na Fortaleza era aguardada com carinho e entusiasmo pelo querido ancião… disseram ainda que ele estava bem… que na tarde anterior havia visitado moradores da comunidade… havia inclusive participado da oração conjunta no início da noite. Que dor tão grande em meu coração… em nossos corações. Mas a chama da esperança, embora tênue, ainda tremeluzia. Vamos nos manter fortes e implorar pela manifestação de um milagre. Nos instalamos e saudamos as anfitriãs Luzirene e Rizelda. À noite, oração. Pensamentos e corações ligados com o Conselheiro. Visitei dona Rizelda praticamente todos os dias em que permanecemos na Fortaleza. Eu e muitos dos que ali estava. Acompanhando seu estado de ânimo e procurando confortá-la.

Em Rio Branco, as visitas lotaram o Pronto-Socorro e depois o Hospital. Familiares e amigos se desdobravam para que seu Luiz recebesse os melhores atendimentos e fosse assistido da maneira mais adequada. Se desdobravam também para manter informados centenas e até milhares de amigos e afilhados que, mundo afora, se preocupavam com o padrinho tão estimado. Até porque a notícia se espalhou rapidamente pela internet. Centros daimistas e amigos do mundo inteiro manifestavam seu carinho em mensagens e telefonemas e direcionavam seus trabalhos, especialmente o de São João que ocorreria no dia seguinte, em benefício da recuperação do estimado Mestre Conselheiro. Uma grande corrente espiritual foi formada. Boletins informativos eram disponibilizados pela família/CEFLI diariamente. Muito carinho, oração e dedicação envolvidos.

Amanhece o dia 23. Hinário em louvor a São João estava marcado na sede da Estrela Dalva para as dez horas da manhã, no intuito de viabilizar a participação/deslocamento de parte da irmandade que reside em Rio Branco e possuía seus compromissos profissionais na segunda-feira. Além da irmandade do CEFLI, a Fortaleza contava também com a presença de cerca de 30 visitantes que ali estavam para participar do festival junino. Após a execução do terço de abertura, Saturnino pediu a todos uma corrente positiva, ligada no restabelecimento do senhor Luiz. E assim ocorreu. Mesmo que não fosse possível, de todo, conter as lágrimas e o aperto no coração, o trabalho foi realizado com muita firmeza; os irmãos e irmãs se apoiando uns nos outros; e todos nós seguros com o Mestre e a Rainha da Floresta. Contexto singular; calor intenso; trabalho forte. Na Força e na Luz do Santo Daime, percepção aguçada, muita instrução. Inserida nessa corrente atravessei o hino da confissão. Digo atravessei porque, naquele momento, senti meu coração dilacerado pela dor de compreender que, em matéria viva, eu não encontraria mais meu padrinho… A instrução era clara. Estava tudo bem, tudo na paz; mas a dor daquela ausência eu levaria comigo… quem sabe por toda a vida… Mesmo assim, continuei pedindo o milagre da recuperação. Se o Mestre Irineu voltou, que os pedidos foram tantos…[7] quem sabe o canto do rouxinol adiasse aquela passagem…[8]. Nesse dia, os aniversariantes do mês de junho foram solenemente parabenizados, incluindo a lembrança e as boas vibrações à madrinha Rita… As tradicionais “Diversões” do Mestre Irineu não foram executadas.

Ao final do hinário, Saturnino e Augusta (nora de Luiz Mendes) me disseram para ficar firme e que prosseguia mantida na programação a apresentação da Companhia Casmerim para o lançamento do livro! Eu não sabia de onde tirar força… mas realizamos os ensaios, agora na companhia de jovens integrantes da banda do CEFLI. Estava lindo…, mas meu coração dizia, desde o início, que a apresentação não aconteceria. Pelo menos não naquela ocasião… seguimos a programação. Dia 24 de junho, segunda feira, descanso e às 20:00 horas, terço das almas. Ao longo da semana foram chegando parentes e alguns amigos/afilhados que residiam em localidades distantes.

Dia 25, hinário “Mistérios da Natureza” do Solon Brito, filho de Luiz Mendes, realizado sem farda, durante o dia, no xubuã.[9] Belo trabalho. Xamânico. Suave. Consolador. Muitas manifestações lindas eu poderia descrever, contudo, para não alongar demasiadamente o texto, vou me ater ao tema aqui contemplado.  Três mirações[10] eu tive nesse dia, relacionadas ao Mestre Conselheiro. A primeira: Solon havia dito, no início do trabalho que, no momento em que o maracá e o tambor se manifestassem, era para firmarmos o pensamento na cura (de cada um de nós que assim necessitasse e, em especial, do senhor Luiz).  No momento em que ele chacoalhou seu maracá, me lembrei da instrução e concentrei na corrente de cura. Me encontrei no salão interior da mente _ não sabia se a minha ou a do padrinho… tudo era de um azul cintilante. Amplo, tranquilo, alegre, vibrante. As conexões neurais funcionavam claramente e no centro via o terceiro olho ativo, vivo. Durou um tempo aquela contemplação e passou. A segunda: com o pensamento ligado no querido ancião, eis que aprecio, um belo jardim. Céu azul, floresta ao redor, pássaros voando. No centro uma belíssima, exuberante e alegre samaúma, aos pés dela uma relva de verde brilhante. No meu pensamento compreendi que a samaúma era meu padrinho: altaneiro, alegre, robusto; sua presença, seu legado, proporcionando aquela sombra, aquela paisagem auspiciosa, para que pudéssemos nos encostar. A terceira foi a mais bela, certeira e dolorida: ao final do trabalho Saturnino cantou seu último hino na ocasião:

Viajando nessa estrada
Avistei uma imensidão
Suspendi meu pensamento
Entrei na bela miração

Heia, heia,
Heia, heia, arrô
Heia, heia
Nas asas do Condor

Ampliei minha vidência
No encantar da visão
Vi um reino encantado
É do Pai da Criação

Heia, heia,
Heia, heia, arrô
Heia, heia
Na visão do Condor

Terra meu planeta água
Papai Sol e Mamãe Lua
Viva o Rei da Criação
A natureza imagem sua

Heia, heia,
Heia, heia, arrô
Heia, Rei Juramidam
Nosso Mestre ensinador

Era como se eu estivesse observando a paisagem na perspectiva de um grande pássaro. A cada vez que se cantava “heia, heia” ele voava, com segurança e suavidade, mais alto… e no “arrô”, planava… E mais alto e mais… Percebi que o pássaro/a visão/o voo representava ali o espírito do Conselheiro. Em seus voos xamânicos. Compreendi que esse voo era muito alto… a miração me mostrava que Luiz Mendes já reunia condições e já realizava o seu derradeiro voo ligado (ou se desligando) da matéria.[11] Tão alto… tão livre… tão sublime. Tão alto que nas últimas estrofes pude apreciar, do espaço, a visão da Terra… Azul! (Novamente o azul, profundo, leve, tranquilo, vibrante). E dos astros no infinito. A visão parou; permaneceu a certeza que o espírito daquele poeta, daquele xamã, viajava na boa companhia do Mestre Juramidam. Que bela miração e que dor no coração… não pude conter as lágrimas. Ainda que eu alimentasse a esperança de um milagre e que fizesse meus pedidos ao Mestre e seus caboclos; à Rainha da Floresta e todos os seres divinos, no sentido de permitirem que o padrinho Luiz voltasse, com saúde, ao menos por um pouco de tempo… os trabalhos com o Daime realizados na Fortaleza durante a semana em que ele esteve internado iam me mostrando que a hora da despedida havia chegado.

Seguimos na batalha. Ao final da sessão no xubuã, já ao cair da tarde, houve a comemoração do aniversário do Daniel (sobrinho de Luiz Mendes, 10 anos) com tema e coração indígena e junino. Dentro daquela confraternização singela e holística, onde todos se esforçavam para manter a alegria tão ensinada e vivida pelo querido padrinho, ouve aplicação de rapé e além do bolo, foi servida a caiçuma.

No dia seguinte, 26 de junho, o trabalho de cura mais aprofundado: Os Chamados.[12] Trabalho recebido pelo próprio Mestre Conselheiro. Não entrarei aqui na descrição do ritual propriamente dito, porém, cabe considerar que o trabalho é dividido em duas partes, oração e cura, sendo em cada uma delas servida uma dose de Daime. A segunda parte, onde são cantados os Chamados, todas as vezes em que eu participei, sempre é extremamente forte. Pela primeira vez, para mim, não foi assim. Dediquei aquele trabalho integralmente ao senhor Luiz; acredito que grande parte das pessoas que ali estavam também. Ao tomar a segunda dose já me preparei para os Chamados. A força do Daime,[13] como de costume, começou a chegar e se intensificar com primeiro Chamado. Normalmente fica mais forte a cada Chamado (são cinco no total). Porém, naquela sessão, a cada Chamado eu sentia que a Força de esvaía. Eu chamava mais forte, com o pensamento ligado no padrinho… e a Força cada vez mais se dissipava… foi assim toda a segunda parte. O que significava? … eu pressentia, mas não queria entender; ou acreditar… Trabalho bem leve. Harmonioso. Suave. Eu (junto com a corrente formada pelas pessoas e entidades que ali estavam) chamando a cura do ancião. E na realidade a cura veio. Mas não da maneira que esperávamos. Quando chegamos ao último hino[14] daquela seleção veio a confirmação e, com ela, mais uma vez, não pude conter as lágrimas de emoção.

O meu navio azul
Todo embandeirado
Com o poder divino
Eu já estou curado

Cabe fazer uma breve menção à história do hino, que ouvi na própria Fortaleza, em outra ocasião. Disseram os mais velhos que esse hino foi recebido pela vovó Cota, irmã do Mestre Irineu, logo antes de sua passagem. E o navio azul (ou barquinho, em outra versão do hino), referia-se ao túmulo do Mestre que, na época era todo coberto de azulejos azul celeste e estava belissimamente embandeirado, em azul e branco, em homenagem à grande Festa do Centenário (lindo de se ver!). Era nesse barquinho que aquela senhora se encontrava, curada, seguindo sua viagem para o mundo espiritual. Pois bem. Eu não estava pensando nisso naquele momento. Porém, inevitavelmente me lembrei, quando na minha suave miração, o padrinho Luiz se fez presente, com seu sorriso e leveza de sempre; era como se ele mesmo cantasse para mim aquele hino! Ele se despedia dizendo que já estava curado; e seu barquinho pronto, todo enfeitado para a grande viagem! Que lindeza, que tristeza…

E como se não bastasse, antes do encerramento da sessão, Junaída, neta de Luiz Mendes, nos transmitiu a seguinte mensagem: “O Conselheiro manda dizer que, de todos aqui, ele é o mais saudável”. Ai, meu coração… aquela frase confirmava a miração, trazendo a recordação de outra bonita história: O ano era o de 1971. Mestre Irineu, já se encontrava idoso e adoentado. No dia 30 de junho foi realizada uma sessão de concentração a benefício de sua saúde. E como relata a senhora Percília Matos, que lá estava, quando terminou o trabalho ele perguntou para o povo:

– Quem foi que viu o meu enterro?
As pessoas disseram que não tinham visto nada. E ele falou que tinha recebido um remédio e que ia ficar bom.
– E que remédio é esse, Mestre?
– É um remédio que tem em todo canto – continuou. – Eu cheguei num salão onde tinha uma mesa ornada, toda composta, com as cadeiras em seu lugar. Só tinha uma cadeira vazia: a da cabeceira.
Foi aí que a Virgem Soberana Mãe chegou ao lado dele e disse:
– De hoje em diante, você é o chefe geral desta missão. […] Você é o chefe. No céu, na terra e no mar. Para todos os efeitos. Todo aquele que se lembrar de você e chamar por você, de coração, e confiar, receberá a luz.
Isso foi no dia 30 de junho de 1971. No dia 06 de julho, ele foi embora.
E a história do remédio é a terra, que se pisa em cima. Ele não foi para debaixo da terra? E ninguém entendeu. Ele não disse que tem em todo canto? É a própria terra… [grifo meu][15]

Pois bem. Mensagem clara: Luiz Mendes estava curado e de todos ali era o mais saudável. O boletim médico do dia era bom: haviam sido realizados, conforme previsto e com sucesso, os procedimentos cirúrgicos; estava tudo bem, tudo estável (embora fosse necessário manter os aparelhos ligados…). Os médicos aguardavam apenas que seu Luiz despertasse. Mas… o despertar, pelo jeito, era outro… E o dia de São Pedro se aproximando… Dia especial na irmandade do CEFLI, conforme já mencionei, pois é quando se cantam os hinários “O Centenário” e “Novo Horizonte”, ambos de Luiz Mendes e que constituem sua biografia, ou autobiografia, mais completa. Porém, dia especial também por outro motivo: segundo relatos, seu Luiz disse abertamente, algumas vezes, que faria sua passagem no dia de São Pedro. Havia uma forte conexão espiritual entre eles. Corações apertados. Ninguém mencionava isso. Vamos confiar na melhora. A programação e afazeres na comunidade continuaram… e os ensaios da Companhia Casmerim também…  Contudo, a apresentação não “acontecia” para mim…

Quinta-feira, 27 de junho, oração (não houve a exibição audiovisual prevista). Nesse mesmo dia, soube eu posteriormente, seu Luiz foi submetido a outra intervenção médica! Exigências do quadro e do hospital… quanto sofrimento… para nós que aguardávamos o desfecho e, quem sabe, para ele em matéria…

Em meu coração, naquela altura, eu já pedia mesmo era pelo conforto, pela libertação do meu padrinho. De uma maneira ou de outra… Se, por um milagre, fosse para voltar ao nosso convívio materializado, que voltasse logo. Mas que voltasse bom! E se fosse para seguir a viagem, que seu espírito tivesse essa liberdade… Afinal, ele prezava tanto sua independência… Já havia mencionado comigo, e com outras pessoas, que queria viver enquanto possuísse as condições de saúde necessárias para dar conta de si mesmo e seus afazeres. Não queria ficar debilitado. Disse ainda, certa vez, fazendo uma reflexão sobre a morte, que rezava (ou rezávamos) todos os dias pedindo à nossa Mãe… E que haveria ou, haveríamos de ter uma boa morte (ele sempre tinha o cuidado, qual fosse o assunto, de incluir a todos; sempre junto com os irmãos…).[16] E pelo que observamos, foi atendido. Até a véspera de sofrer o AVC estava ativo. Cuidando de seu roçadinho. De suas compras e contas. Indo aos trabalhos espirituais. Orações. Interagindo com as pessoas, como era do seu gosto.

Sexta-feira, 28 de junho. Véspera de São Pedro e dia da apresentação do livro do Orador. Após os ensaios finais, vou à casa de dona Rizelda. A vejo bem abatida. Recebo a notícia, recém transmitida à família, que o quadro havia piorado. Na realidade, os familiares já haviam levado a farda do Conselheiro (para com ela ser vestido para o enterro). A partir daquele ponto, os médicos só aguardavam mesmo a horada partida! Ai Deus…. Ou melhor seria dizer, adeus! As lágrimas corriam pelos meus olhos sem que eu as pudesse conter. E dos olhos de cada um que ia sabendo a notícia. Não sabia para onde ir… o que fazer… rezamos um terço na casa de dona Rizelda. Entre soluços e abraços, pedi para desmarcarmos a apresentação e realizarmos uma oração, pois seria melhor para todos. Assim foi. A dor era visivelmente grande, para não dizer quase insuportável, em cada um a quem eu transmitia a informação da partida iminente do tão amado patriarca daquela comunidade. Fizemos a oração e nos recolhemos.

Amanhece o dia de São Pedro. Todos aguardando a notícia que não chegava… O dia passa lentamente e à noite a família de Luiz Mendes e irmandade do CEFLI se encontra reunida na sede de trabalhos para a realização do trabalho (incluindo os que moram em Rio Branco, com destaque para seus irmãos Francisca e Nonato e grande família; e até afilhados e parentes de mais distante; exceto os que davam a assistência no hospital e demais preparativos). Havia conversado com a amiga Rosalânge: queria fazer uma entrega simbólica do livro para o senhor Luiz; nesse sentido, pedi se poderia colocar o exemplar que era a ele destinado na mesa de centro do trabalho naquele dia em que se cantaria seu hinário. Ela concordou e pediu ainda que eu colocasse outro exemplar na mesa de entrada, junto ao livro de assinaturas. Assim foi feito.[17]

Iniciamos a sessão.  Quanta firmeza! Bailamos e cantamos com vigor, mas não sem dor, o hinário “O Centenário”, até o hino de número 100, onde tradicionalmente ocorre o intervalo. Pensamentos e corações ligados no ancião… enfim, o intervalo. Saturnino conversando conosco comunicou/consultou sobre não executarmos, naquele dia, o Novo Horizonte, pois, pela manhã iria com dona Rizelda a Rio Branco para “ver o papai”. Concordamos prontamente. Segue o intervalo. Todos acomodados, ambiente tranquilo; fogueira acessa, contemplação e confraternização. Em determinado ponto me levanto e vejo algumas mulheres em torno da madrinha Rizelda. Massagens e consolos… uma amiga me chama e dá a notícia que acabara de chegar para Saturnino por um mensageiro: “mana, o padrinho, viajou”! Um misto de dor e agradecimento invadiu meu coração e, àquela altura, só pude dizer: graças a Deus. Graças a Deus por ter libertado o espírito de Luiz Mendes para seguir sua travessia de luz. Posteriormente soubemos a hora exata de seu passamento: 23 horas e 10 minutos do dia 29 de junho de 2019. Dia de São Pedro. Seu último hino selava a história:[18]

Bem na força do relâmpago
Eu ouvi bem trovejar
Veio trazendo a minha cura
Cura, cura, curará

No desabrochar da flor
Nosso Mestre a nos ensinar
Dai-me conforto e dai-me amor
Para eu poder triunfar

O triunfo é divino
No pulsar do coração
Defrontado com meu Mestre
Junto com os meus irmãos

Junto com os meus irmãos
Meu desejo é bem seguir
Estou alegre e satisfeito
Canto, canto, cantar ir

Na força do relâmpago, a cura finalmente chegou; e cantando, junto com seus irmãos, se foi esse passarinho artista, arauto do Rei Juramidam. Com certeza triunfou.

Bem, haveríamos de concluir o trabalho iniciado. Já prestando nossas homenagens fúnebres, foram colocadas as cadeiras e a segunda parte do hinário foi executada à capela, todos sentados. O canto estava celestial. Como bem merecia (merece) o ancião. Ao concluirmos o Centenário, já ao amanhecer do dia 30, Saturnino informou que não faríamos, naquele momento, o Novo Horizonte. Até porque ele iria, logo após o encerramento do trabalho, para Rio Branco para trazer o corpo que seria enterrado, a pedido do Conselheiro, na Fortaleza. Ali, bem ao lado da sede. Antes, contudo, o cortejo fúnebre passaria e permaneceria algum tempo no túmulo do Mestre Irineu no Alto Santo, também a pedido do próprio Luiz Mendes, inclusive dando a oportunidade para que as irmandades dos diversos centros daimistas de Rio Branco pudessem se despedir e fazer suas homenagens. (E assim foi. Até a viúva do Mestre, senhora Peregrina Gomes Serra, esteve presente com sua irmandade). Às doze horas o cortejo chegaria à Fortaleza onde seria realizado novamente, na sede da Estrela D’Alva, o hinário “O Centenário” e também o “Novo Horizonte” e outros hinos mais, todos à capela, no velório de corpo presente, em uma grande e bela homenagem àquele patriarca daimista. Com essas informações fechamos o trabalho de São Pedro por volta das seis da manhã do dia 30. Era a conta lavar a camisa da farda, tomar um café, descansar um pouco (bem pouco) e retornar para a sede.

Às onze horas iniciamos o terço. E ao meio-dia o cortejo fúnebre chegou. Formamos as fileiras na entrada da sede e recebemos o corpo do ancião ao canto do hino por ele escolhido para esse momento[19]:

Eu agradeço a meu pai
Agradeço a minha mãe
Eu agradeço a todos seres
Que são deste rebanho

Eu agradeço a minha mãe
Agradeço a meu padrinho
Eu agradeço aos meus irmãos
Que estão neste jardim

palmas

Grande foi a emoção. Indescritível. Muito choro. Carinho. Dor. Gratidão… Cuidados com a madrinha Rizelda que após um breve momento de mais intensidade no sofrimento, logo se recompôs e, mesmo trazendo no peito aquela dor da despedida de seu grande amor, ficou firme durante todo o velório; cantando com vigor junto à sua família, irmãs e irmãos, afilhados e amigos (inclusive muitas crianças) de diversas localidades que ali chegaram para prestar as últimas homenagens ao Conselheiro e os sinceros sentimentos à viúva e toda família. Essa senhora, de baixa estatura e cabeça branca, demonstrou, mais uma vez, ser uma fortaleza. Recebeu com grande carinho todos os abraços e boas palavras que lhe foram destinadas; com esse mesmo carinho e atenção redobrada recebeu as visitas de outros centros, em especial algumas senhoras também de idade avançada que, mesmo com a dificuldade de se deslocar até a Fortaleza, se fizeram presentes; cito, a título de exemplo, a senhora Adália Gomes, filha de Antônio Gomes, e comitiva; a senhora Francisca Gabriel, madrinha da Barquinha, e acompanhantes; uma comitiva de senhoras da irmandade da madrinha Peregrina Gomes Serra. Muitos outros centros se fizeram ali representados ao longo daquele velório cantado e rezado na sede da Estrela Dalva, comunidade Fortaleza. Velório que teve início ao meio-dia de 30 de junho e terminou às dez horas da manhã do dia 1° de julho com o enterro do patriarca, ao lado da sede, em local preparado por alguns irmãos enquanto o corpo era velado. A serventia do Daime ficou aberta durante todo o percurso.

Pois bem, logo após recebermos o corpo, foi estabelecido que quatro sentinelas, dois homens e duas mulheres, formariam bem ao lado do caixão. Essa equipe revezaria ao longo do velório. Eu e meu esposo tivemos a honra de formar na primeira equipe. Impossível colocar em palavras a grandeza e singeleza daquela vivência. No meu pensamento, no meu coração, entrei em emocionante conferência com o ancião. Muita gratidão… Era um momento de silêncio onde aguardávamos que os familiares e amigos chegados de Rio Branco no cortejo se preparassem para então darmos início ao hinário. As pessoas que ali estavam se aproximavam do caixão para se despedir e fazer suas preces. Ainda durante esse período de espera houve um revezamento na equipe de sentinelas. O hinário começou. Que coral magnífico entoando com perfeição um canto, ao mesmo tempo, de júbilo e de dor. Logo no início do Centenário eu e o Pila fomos novamente convidados para formar a equipe de sentinelas; ali permanecemos até o hino de número 30. Quanta graça, quanta firmeza, quanto ensinamento, quanta luz, quanta suavidade (embora não se possa negar a dor da despedida). No hino 66 foi realizado o primeiro intervalo daquela jornada, quando foi servido um lanche na igreja. Após cerca de uma hora e meia reiniciamos o canto, seguindo, com vigor, até o final do Centenário com seus 132 hinos. Já na madrugada do dia primeiro, outro intervalo. Mais um lanche na igreja e sopa no refeitório. O sono estava forte. Vale lembrar que estávamos em trabalho, praticamente, desde as 20:00 horas do dia 29. Fui ao refeitório e ao dormitório. Precisava descansar um pouco… ia caindo no sono quando o Pila me disse: “Mas agora é o Novo Horizonte! ”, como quem diz, você vai perder?! Eu quis resistir, mas a consciência não permitiu. Não podia perder o Novo Horizonte, justo naquele dia de homenagens ao padrinho. Lavei o rosto, ajeitei a farda e voltei para a sede.

Eis que ao final do intervalo, por volta das três horas da madrugada, recebemos a ilustre visita da madrinha Chica Gabriel e sua comitiva. Ela já era esperada. Sabia-se que estava terminando uma romaria na Barquinha e, posteriormente, se deslocaria para a Fortaleza. Não cabe aqui descrever detalhes, mas é importante citar que a amizade daquela anciã de 82 anos com o senhor Luiz era muito forte e bonita. Ela foi saudada pelo presidente Saturnino e dona Rizelda e disse que queria realizar um terço. Assim foi concedido. Que lindeza de trabalho. Um silencio e uma paz profundos tomaram conta do salão. Uma reza forte era, a cada mistério, entremeada por um curto e belo canto à Maria. Ao final do terço uma cantoria a Nossa Senhora das Candeias. Só de lembrar meus olhos enchem d’água. Era como se eu pudesse ver, naquele instante, o barquinho do padrinho navegando em alto mar, mar sereno; e a Senhora das Candeias, a Rainha do Mar, iluminando seu caminho, sua travessia. As palavras não alcançam descrever o trabalho e a miração. Depois do canto e das preces de encerramento, uma fala firme e bela (e, ouso dizer, canalizada do Astral Superior) de encaminhamento e agradecimento ao amigo e Mestre Conselheiro. Logo em seguida demos início ao Novo Horizonte, executado com grande emoção e grande perfeição. Ah! O mar… com seus encantos… o padrinho… sua poesia… sabedoria… seus cantos… e encantos… seus amigos… tanta festa… tanta saudade…

O dia amanheceu. Cantamos ainda os dez últimos hinos do Pequeninho (do Saturnino) e A Alvorada (da senhora Ana de Souza, mãe da madrinha Rizelda). Fizemos um intervalo com café da manhã. Retornamos para a forma aproximadamente às oito da manhã. O irmão Davi, da Holanda, foi convidado a executar uma bela apresentação de três canções. Logo em seguida foi o momento dos discursos em homenagem a Luiz Mendes. Foram muitos e alguns deles comoventes: senhores Ladislau Nogueira do CICLUJUR; Horácio da Barquinha do senhor Antônio Geraldo; Dagoberto Pedroso da Estrela Dourada – MS; Lou Gold; Solon Brito; Raimundo Nonato -conhecido como dr. Raiz – representando a União do Vegetal – UDV; e por fim, o senhor José Augusto, prefeito de Capixaba – AC. Após os discursos foram executados solenemente, todos de pé, os Hinos Novos do Mestre Raimundo Irineu Serra. No penúltimo hino, número 128, o canto parou por um instante. Últimas despedidas para então fechar o caixão, envolve-lo na bandeira do Acre e leva-lo, em um belo cortejo, para a sepultura, logo ao lado da sede. Ali, por volta das dez horas da manhã, ao som de fogos de artifício (a pedido próprio Luiz Mendes) foi cantado o último hino do Cruzeiro “Pisei na Terra Fria”, enquanto o caixão descia à terra. Eu e outras irmãs estávamos juntas bem ao lado da madrinha Rizelda, amparando-a naquela hora de grande dor. Houve uma grandiosa salva de palmas, rezamos as preces de encerramento e cada um dos presentes, simbolicamente, jogou um pouco de terra sobre o caixão. Retornamos para a sede para cumprimentar amigos e familiares, especialmente a senhora Francisca Mendes que, pela dificuldade de locomoção havia permanecido ali, com alguns dos seus, inserida em grande emoção. Entre abraços e consolos mútuos observávamos algumas pessoas (inclusive o Pila e, destacadamente, a Naomi Kerongo, uma irmã queniana de 62 anos que, com sua boa presença, também acompanhou toda aquela travessia na Fortaleza) cobrirem o caixão de terra. Junaída, neta de Luiz Mendes, que junto a outras cantoras havia executado os hinários e homenagens a seu avô com grande perfeição, permaneceu, sob o sol escaldante do Acre naquela hora já avançada, de pé, ao lado da sepultura até que aquele serviço terminasse; e ainda um pouco mais de tempo. Imagem tocante. Como tantas outras que não descrevo aqui. O túmulo foi enfeitado de flores e fomos todos repousar.

A programação da semana transcorreu conforme previsto. Não irei me estender nos detalhes para não tornar o texto extenso em demasia. No mesmo dia do enterro, às oito horas da noite, como era segunda-feira, terço das almas. Dona Rizelda pediu para que, até o sétimo dia, as luzes do cruzeiro na entrada da sede fossem acesas durante a noite. E todos os dias dessa semana ela foi até o túmulo fazer suas orações.

Terça-feira dia 02, cantamos os 40 últimos hinos do hinário Pequeninho, sem farda, bailado, com Daime. Para mim, pessoalmente, não foi nada fácil… embora consolador. Tudo muito recente; emoções transbordando pelos olhos… Quarta-feira, trabalho de cura intitulado Rei Curador. Fortíssimo. Percebi que dona Rizelda chegou bem abatida… natural, mas preocupante… durante a sessão, porém, ela foi se reestabelecendo e, ao final sua fisionomia já era outra. Mais confortada. Acredito que pela própria força do daime, pelo canto e pelo contato com os irmãos naquela corrente positiva de amor. Ao final da sessão os irmãos Lou Gold e Nick presentearam a irmandade com uma linda homenagem ao Conselheiro. Fizeram e doaram camisetas onde estava estampada uma conhecida e graciosa foto do ancião. Com grande alegria todos recebemos aquele presente. Saturnino pediu então para que no dia seguinte, no trabalho na mata, todos nós fossemos vestidos com aquela camisa, configurando assim, mais uma homenagem póstuma.

Quinta-feira, trabalho de dia, no terreiro do cipó.  Túmulo do padrinho ornado de flores, conchinhas do mar, velas e preces. Todos vestidos com o presente recebido na noite anterior. Trabalho lindo, dentro da suavidade. Banda incrível. Dona Rizelda, aquela firmeza no hinário de sua mamãe; ali naquela floresta encantada, junto com sua família, seus afilhados, seus irmãos, com certeza, ela e todos nós, recebendo conforto para seguir a jornada. Ao final do trabalho já adentrando a noite, Saturnino convidou, aqueles que quisessem para, no alvorecer da sexta-feira, mais precisamente às quatro horas e trinta minutos da manhã seguinte, se reunirem, tomarem o Santo Daime e caminharem até a praia do rio Xipamano para, ao som da orquestra dos passarinhos, assistirem ao amanhecer (praticamente todos quiseram! Inclusive a madrinha!). Após o trabalho, no refeitório, parabéns com pipoca, frutas e lanche para os aniversariantes do dia. Sexta-feira, à noite, oração na sede, com Daime aberto para quem quisesse. Das mulheres, a madrinha foi a primeira a tomar. Uma friagem já dava sinais de estar chegando. E chegou. Uma ventania à noite, com direito a chuva, trouxe um frio gelado do sul.

Um parêntese: Embora eu houvesse feito a entrega simbólica e silenciosa do livro no altar, no dia de São Pedro, senti que precisava fazer uma explanação, ainda que breve e solene, para a comunidade e também em homenagem ao orador (já que havia optado por deixar a apresentação artística da Companhia Casmerim para outra ocasião. Solon, inclusive, havia me dito que continuava no aguardo da apresentação). Conversei com o Saturnino sobre realizar essa fala na ocasião do sétimo dia e ele concordou plenamente. Estava combinado. Embora não fosse como eu havia preparado, não poderia deixar passar sem oferecer uma homenagem verbalizada ao já saudoso ancião. Assim foi.

Amanhece o sábado, 6 de julho. Dia em que se recorda e celebra a passagem do Mestre Irineu. E, naquela grande travessia orquestrada pela divindade, calhou de ser também da missa de sétimo dia do senhor Luiz. Os parentes e irmandade do CEFLI residentes em Rio Branco viriam novamente à Fortaleza para aquela comunhão, onde além da missa, tradicionalmente se canta o hinário O Cruzeiro do Mestre Irineu, completo, com suas 132 flores. À capela, todo sentados sendo, alguns hinos específicos intercalados por preces. E a friagem forte. Vamos levar agasalhos e cobertas para sede. Às seis horas da tarde, todos reunidos, a missa. Leve. Bonita. O canto, como nas homenagens do velório, estava celestial; firme, harmônico, vigoroso. Da mesma maneira as preces principiadas pela senhora Francisca Mendes, essa “mulher magnética”, como dizia seu irmão Luiz. Após a missa um breve intervalo para adentrarmos ao Cruzeiro. Primeira parte do hinário entoada de igual maneira. Antes do intervalo, no hino de número 66, Saturnino me convidou para realizar minha breve e solene explanação. Além das homenagens ao Conselheiro e referências ao livro tecido e publicado em diálogo com o ancião, realizei também a leitura de uma de suas belas palestras registradas na obra; palestra pertinente àquela ocasião. “Acho que foi bem aceita, nos olhares eu conheci”; e também nas salvas de palmas, agradecimentos e abraços que recebi. Após o intervalo continuamos a cantoria até o amanhecer do dia 07. Por fora, o clima continuava bem frio; mas, por dentro, os corações se encontravam aquecidos pela presença do Mestre e a companhia dos irmãos. Concluímos, com chave de ouro, o ciclo daquela bela travessia.

Conforme relatos de familiares e, condizente com sua personalidade, seu Luiz afirmava que quando se ausentasse, não queria tristeza! De preferência, em seu velório, gostaria de um hinário bailado, com queima de fogos! (Na brincadeira com sua neta Vanessa Balduína cogitou até a possibilidade de um forró!!)  Ele queria uma festa. E, de certa forma, assim foi… não bailado, não com tantos fogos, não com forró…, mas…dentro das possibilidades emocionais de todos nós que ficamos, com a lembrança e a dor da despedida, foi uma festa. Uma grande e bonita celebração com a presença de muitas pessoas; muitos seres (humanos e espirituais); bem ao estilo do estimado Centurião. Uma grandiosa e belíssima confraternização – diríamos até, universal – direcionada para o bem-estar desse patriarca tão amado; confraternização iniciada no dia 23 de junho com a ampla corrente formada no festejo de São João e concluída no dia 06 (para 07) de julho, data da passagem do Mestre Irineu, onde celebramos a missa de sétimo dia do nosso ancião. O chamado com certeza foi do Mestre; o caminho já se encontrava aberto e o viajante preparado e bem acompanhado. Mas de nossa parte oferecemos o melhor que pudemos, na intenção que nosso bom companheiro fizesse uma boa viagem.

Na tarde do dia 07 mesmo, com grande emoção, nos despedimos da madrinha Rizelda e de toda a família; a grande família da Fortaleza/CEFLI. E iniciamos nosso retorno às montanhas mineiras. Enfim, “no adeus da despedida, saudade fica, saudade vai…”. A presença viva do padrinho Luiz será para sempre lembrada! Seu corpo volta à Terra e sua voz terrena silencia, mas seu espírito permanece vivo e suas palavras eternizadas em nossos corações. E, dentro do mistério do plano divino, o oceano de sua vida, ciência e poética se encontra agora eternizado também, pelo menos em gotas, no livro em seu nome publicado O Orador do Mestre Raimundo Irineu Serra: Diálogos, Memórias e Artes Verbais”. Esse livro, feito com muita dedicação e carinho, tecido em diálogo com o querido Mestre Conselheiro Luiz Mendes do Nascimento é uma homenagem a esse grande homem. Uma forma de expressar meu carinho e gratidão por ele compartilhar conosco sua existência tão generosa e sincera; tão sábia e poética; tão humilde, alegre e iluminada! E por trazer, para junto de nós, a presença viva do Mestre Irineu.

Muito obrigada, querido amigo velho!

O PALÁCIO DE CRISTAL

Muito ainda poderia ser escrito…, contudo, para finalizar este depoimento, gostaria de salientar que, no decorrer da travessia, rezei, pedi, implorei que o rouxinol viesse cantar perto do meu padrinho… e que seu canto celestial e divino fizesse a morte esquecer de ceifar… que seu canto encantador pudesse aquela passagem adiar… como no conto do “O rouxinol e o imperador chinês”.[20] Porém, ao contrário daquele imperador, meu padrinho já estava pronto para a grande viagem e a morte não lhe causava tormenta alguma. Antes, significava o conforto; a libertação de seu espírito para que ele pudesse alçar voos mais altos e sublimes; e navegar em águas mais cristalinas. Como ele tanto almejava, podemos afirmar, teve uma boa morte. E mais uma vez Luiz Mendes se aproxima de Francisco de Assis[21] que, em seus versos eternizados, canta: [22]

Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã a Morte corporal,
Da qual homem algum pode escapar.
Ai dos que morrerem em pecado mortal!
Felizes os que ela achar
Conformes a tua santíssima vontade,
Porque a morte segunda não lhes fará mal!

Quem conheceu seu Luiz provavelmente o ouviu narrar, em alguma ocasião, a história que o Mestre Irineu havia lhe contado sobre a Estrela D’alva![23] Que ela constitui uma belíssima morada espiritual; um majestoso palácio de cristal. Porém, na ocasião em que o Mestre a visitou em miração, tal morada se encontrava vazia, pois, até então, ninguém possuía a capacidade, o merecimento para habitá-la… E o padrinho Luiz completava a história dizendo que tinha o sonho e trabalhava para que, quando fizesse a sua passagem, ele reunisse em si as condições para lá habitar!

 Diante do que presencie, na Terra e no Astral, posso dizer com confiança que Luiz Mendes cumpriu sua missão. Seguindo os passos de seu (nosso) Mestre nessa escola de sua professora Clara onde foi aluno e é também professor, esse homem tão grande e tão humilde, com seu coração mansinho, e sua alegria contagiante, trabalhou e alcançou. Sofreu… até porque como ele mesmo canta, “sem sofrimento é difícil de alcançar…”. Então teve que sofrer… até em sua despedida, teve que passar aquela semana internado… talvez até uma consideração para conosco… para que tivéssemos tempo de assimilar aquela passagem… talvez para o cumprir o que estava destinado e fazer sua passagem durante a execução do seu hinário, no dia de São Pedro. Mas como ele bem afirmou, logo lhe chegou o conforto. E até onde pudemos observar, ele fez uma bela travessia. E, com a Luz da Santa Guia, nosso padrinho, com certeza, se iluminou!

E em sua iluminação, tenho a confiança, ilumina um pouquinho mais cada um de nós! Até porque, a exemplo do Mestre, ele não objetiva (e nunca objetivou) chegar sozinho a lugar nenhum… Daí que essa lembrança é boa! Essa esperança, essa certeza, nos alimenta e nos conforta. E nos dá força para seguirmos a jornada e – a exemplo do Mestre Conselheiro, contando sempre com o seu amparo – trabalhar incansavelmente sonhando com um bom lugar. Trabalhando e sonhando então para que, quando chegar a hora de nossa viagem derradeira, nossa estrela esteja brilhando com a pureza divinal e o padrinho, juntinho ao nosso Mestre Juramidam, venha nos buscar para habitarmos com eles, na Estrela D’Alva, em seu Palácio de Cristal.[24]

Oh meu Pai se for castigo
Vós pode me castigar
Mais eu sempre peço a Vós
Conforto para atravessar

Logo me chegou o conforto
Com a luz da santa guia
Iluminou o meu caminho
Eu fiz uma travessia

No final eu me abismei
Vi um palácio de cristal
Com a luz da santa guia
Eu acendi meu castiçal

As lembranças do passado
Nelas eu posso me centrar
Mesmo eu saindo daqui
Tudo eu hei de me lembrar

Foi a luz da santa guia
Que fez eu me originar
Para eu trabalhar incansavelmente
Sonhando com um bom lugar

São Pedro abriu a porta e o céu está em grande festa com a chegada desse centurião oficial.

Voa livre querido! Lembra sempre de nós… E levas contigo o Amor!

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Foto: Lou Gold. Arte: Fernanda Cougo.

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[1] Mestra em Letras: Linguagem e Identidade pela Universidade Federal do Acre. Fundadora da Companhia Casmerim. cougo.fer@gmail.com

[2] Para saber mais sobre o Daime/Ayahuasca, a doutrina do Mestre Irineu, Luiz Mendes e minha inserção nessa cultura veja: MENDONÇA. Fernanda Cougo; NASCIMENTO. Luiz Mendes. O Orador do Mestre Raimundo Irineu Serra: Diálogos Memórias e Artes Verbais. Nepan, Rio Branco, 2019.

Um resumo está disponível em: companhiacasmerim.wordpress.com/livro-o-orador-do-mestre-irineu-serra/

[3] Estrela Dalva e Luzeiro da Manhã são os nomes das sedes de trabalhos do CEFLI, localizadas na Comunidade Fortaleza, Capixaba –AC, e no Bujari – AC, respectivamente.

[4] Para saber mais sobre a apresentação acesse companhiacasmerim.wordpress.com/companhia-casmerim-em-dialogos-com-contos-cantos-e-encantos-do-orador-do-mestre-irineu/

[5] Modo daimista de se referi à morte: uma passagem da vida material para a espiritual; da carne para o espírito.

[6] Programação/calendário vivido, em anexo, ao final do texto.

[7] Referência ao hino nº 128 do Cruzeiro, Mestre Irineu. (E vivência nele relatada).

[8] Referência ao hino nº 1 do Novo Horizonte, Luiz Mendes; E ao conto “O rouxinol e o imperador chinês” registrado por Hans Christian Andersen.

[9] Xubuã: É um grande salão nos moldes indígenas _ chão de terra batida, telhado de palha_ construído ao lado da sede de trabalhos da Fortaleza, para realização de cerimônias mais holísticas; indígenas, xamânicas – pajelança.

[10] Miração: é o nome dado na doutrina do Daime para os efeitos do chá, que comportam a ampliação da percepção comum. Durante a miração a pessoa pode receber curas; ver, ouvir, sentir, perceber outras realidades/mundos/seres; experimentar/entender realidades cotidianas por perspectivas não ordinárias.

[11] A cerca dos voos xamânicos ver o livro “O Orador…” já citado.

[12] O termo é utilizado tanto para designar o hinário/ritual de cura criado por Luiz Mendes, quanto o canto específico; e também para indicar os “donos” dos cantos: os seres espirituais que os ensinaram e que por eles são chamados. Cf. “O Orador…”

[13] Força: expressão nativa para referir-se ao momento em que as propriedades do chá são sentidas por aqueles que o ingeriram.

[14] Hino recebido pela “Vovó Cota” irmã do Mestre Irineu e que corresponde ao n° 42 da seleção de cura “Os Chamados”, de Luiz Mendes.

[15] Depoimento da senhora Percília Matos. Disponível em: www.mestreirineu.org/percilia.htm Acesso em jul. 2019.

[16] Algumas reflexões do ancião em relação à morte podem ser lidas no livro “O Orador…” já citado.

[17] Durante a semana que se seguiu recebi retornos muito carinhosos dos familiares de Luiz Mendes e amigos. Entreguei os exemplares que doei ao CEFLI, as encomendas de irmãos, vendi os que ainda restavam e a 1ª edição foi esgotada. Retirando os custos da campanha, repassei metade do valor das vendas para o CEFLI.

[18] Ultimo hino, nº 49, do Novo Horizonte, Luiz Mendes.

[19] Hino n° 23 da Nova Jerusalém, Padrinho Sebastião Mota de Melo

[20] Conto registrado por Hans Christian Andersen disponível em www.miniweb.com.br/cantinho/infantil/38/Estorias_miniweb/rouxinol/o%20rouxinol.pdf Acesso em jul. 2019

[21] Sobre a aproximação de Luiz Mendes com Francisco de Assis ver no livro “O Orador…” já citado.

[22] FRANCISCO DE ASSIS. O Cântico das criaturas. Disponível em: www.franciscanos.org.br. Acesso em dez. 2015.

[23] Para ler a história na íntegra acesse: www.mestreirineu.org/luiz.htm. Acesso em jul. 2019.

[24] Hino nº 33 do Novo Horizonte, Luiz Mendes.

5 comentários em “A Grande Viagem do Mestre Conselheiro

  1. Flaviano Schneider 29 de julho de 2019 — 17:18

    Gratidão pela narrativa!

    Curtido por 1 pessoa

    1. Olá Flaviano! Uma satisfação compartilhar.

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  2. Parabéns Fernanda muito linda a narração. …

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    1. Obrigada Raimundo. Vem do coração… E é uma satisfação compartilhar, ainda que em parcelas, essa tão bela travessia.

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